quarta-feira, 5 de novembro de 2014

EDUCAÇÃO VARIOS TEMAS:É O desafio atual é promover o equilibrio entre ensinar e aprender na prática é a liderança que gera eficacia de novas práticas...

O desafio de desafiar nossos alunos

 | Comportamento dos alunos

Foto: Shutterstock
Entre todos os nossos desafios diários talvez o maior e mais importante seja o de acender nos alunos o desejo pela busca do conhecimento. Apesar disso, com o passar dos anos, o envolvimento deles com os estudos se fragilizou e isso tem provocado angústia em todos os educadores!
Quando partimos do pressuposto de que o homem é, por natureza, um ser curioso e sedento por descobertas, a desmotivação da garotada é ainda mais incômoda e preocupante. No entanto, é preciso considerar que, ao contrário do que ouvimos em repetidos discursos e lamentos sobre a Educação nos dias de hoje, o problema está relacionado diretamente a fatores externos aos alunos.
Tecendo um paralelo entre a realidade atual da escola e a de 30 anos atrás, nos chama a atenção como mudou o envolvimento que os alunos tinham com os estudos antes e têm agora. Mas o que mudou? E por que mudou?
Há explicações para essas questões. Pensemos no aluno de antigamente. Ele era movido predominantemente pela moral da obediência – heteronomia – e jamais questionava se o conteúdo proposto pela escola faria ou não sentido para sua vida. Ele era fruto de uma Educação familiar muito mais autoritária, em que a obediência à autoridade dos mais velhos estava acima de qualquer questionamento, independente da sua própria opinião. O cumprimento de regras e deveres se dava em nome de quem os ditava, e não por consciência de sua necessidade.
Já ouvi educadores dizendo que esse receptor passivo de tempos atrás seria melhor para o bom andamento das aulas. Considero isso totalmente questionável. Afinal, que aluno queremos ajudar a formar? O que obedece e cumpre integralmente toda e qualquer ordem? Evidente que não. Nosso desejo é – ou deveria ser – formar um ser humano mais justo e consciente, crítico e responsável. Nosso trabalho deve, acima de tudo, favorecer a autonomia moral e cognitiva de nossos alunos. E sua construção parte do princípio de que o ser humano precisa se sentir desafiado a reagir, ou seja, deve se incomodar, ficar intrigado, duvidar e até “querer pagar para ver”.
Com as transformações nas relações familiares e em toda a sociedade, o perfil do aluno é totalmente diferente daquele anteriormente descrito. E, por não mais aceitar passivamente o que lhe é imposto, não podemos contar que ele irá se comprometer com algo que não faz sentido para ele. Por isso, não há mais razão em conquistar o envolvimento do aluno somente lembrando-o das notas que deverá alcançar, da aprovação no final do ano ou do seu ingresso na universidade.
Provocar a participação da garotada é possibilitar também que eles desenvolvam projetos individuais e coletivos, busquem conhecimento a partir de suas inquietações e do que quer descobrir e façam perguntas sobre o que está aprendendo, assim como defendia Jean Piaget (1896-1980) e como, atualmente, defende o pesquisador espanhol Josep Maira Puig. Hoje, os makers space (espaços de criação) retomam esse discurso e preveem, justamente, o estabelecimento desse equilíbrio entre o que o aluno quer e o que ele precisa aprender ao contemplar momentos em que as metas a serem alcançadas são estipuladas ora pelos próprios alunos ora pelos professores. Quando fazemos isso, garantimos o exercício de autorregulação necessária para o alcance da autonomia, tiramos o foco dos resultados e passamos a considerar mais o processo. E ele, certamente, exigirá envolvimento, responsabilidade, trabalho coletivo e outros aspectos imprescindíveis para a formação dos estudantes.
O desenvolvimento de um trabalho pedagógico que aproxime as crianças e os jovens de seus projetos de vida implica diretamente em alimentar sua motivação para buscar conhecimento. No lugar do medo e da obediência cega aos professores que caracterizava os alunos do passado, devemos inspirar em nossas crianças e nossos jovens a admiração, semente do respeito à autoridade, algo tão necessário e desejado por todos nós.
E você? Como desafia seus alunos? Suas experiências certamente podem incentivar novas práticas. Compartilhe conosco.
Cumprimentos mineiros e até a próxima segunda

Como orientar os professores sobre as conversas de porta de sala com os pais?

 | Família e escola

Ilustração: Vilmar Oliveira
Se tem um espaço na escola que não deveria ser um local de conversas é a porta da sala de aula. Mas como é difícil evitar que isso aconteça!
Em muitas instituições, é na porta das classes que os pais se encontram com os professores nos horários de entrada e saída da criançada. Nesses momentos, são quase inevitáveis falas como: “Posso falar com você só um minutinho?” e “Como foi o dia? Meu filho se comportou bem?”. O professor precisa ser bem orientado e estar atento para conseguir escapar dessasarmadilhas. E uso essa expressão por ter vivido e testemunhado inúmeras (e desastrosas) situações, que, naturalmente, teriam sido evitadas se alguns protocolos tivessem sido seguidos.
Relato a seguir um desses momentos, certamente o mais danoso e traumático. Em turmas do 1º ano, com crianças de 6 e 7 anos, momentos de descoberta e exploração da intimidade entre meninos ou meninas é algo natural. Durante um recreio, alguns alunos, dentro do banheiro, se exibiram uns aos outros, mostrando seus órgãos genitais. Rapidamente, colegas que testemunharam a cena procuraram a professora da classe para resolver a situação. Insegura em relação a que atitude deveria tomar, ela pediu ajuda. A diretora, conhecendo sobre o desenvolvimento infantil, fez a intervenção apropriada com as crianças. Ela se preocupou mais com as questões de preservação da intimidade – o que é da dimensão do privado e do público –, do que com as de apelo sexual.
Informada sobre como o caso tinha sido encaminhado, a professora retomou normalmente o trabalho. No entanto, em vez de dar o assunto como encerrado, ao ser questionada por um familiar sobre o comportamento de um dos garotos envolvidos no episódio do banheiro, a docente relatou todo o caso, ali mesmo na porta da sala. Pronto, o estrago estava feito! Para resumir, no dia seguinte fomos informados de que o menino havia sido brutalmente espancado pelo pai que, avaliando a situação sob sua perspectiva, buscou dar um corretivo no filho, a fim de garantir que a atitude não se repetisse.
Façamos o difícil exercício de não julgar esse pai e foquemos em como evitar situações como essa. É compreensível que os professores, buscando atender às famílias, acabem dando respostas de maneira improvisada e não profissional. Há na escola, ou deveria haver, momentos específicos para o atendimento aos familiares, com hora marcada, em local apropriado e com a presença dos profissionais diretamente responsáveis pelo aluno.Sempre, o coordenador pedagógico ou o orientador educacional deve estar junto com o professor.
É importante que antes de qualquer conversa com os responsáveis, a coordenação oriente o professor e alinhe com ele os pontos a serem tratados e a abordagem adequada, considerando os aspectos relevantes para que o atendimento tenha sucesso: linguagem apropriada, acolhimento das dúvidas, respeito e reconhecimento da fala dos pais e limites a serem respeitados. Comunicações improvisadas, como nos casos dos papos de porta de sala, dão espaço para incidentes evitáveis.
Mas e quanto às indagações de porta de sala? O que responder aos pais? O melhor é dar respostas claras e objetivas que não possibilitem margem a outras interpretações. Veja alguns exemplos: “Foi um dia de muitas aprendizagens e de novos desafios” ou “o comportamento do seu filho está dentro do esperado”. Aos pedidos de conversa em particular, por sua vez, é possível se posicionar da seguinte maneira: “Será que poderíamos combinar um outro momento? Na entrada e saída é fundamental que eu esteja atento e disponível para as outras crianças”. Uma resposta difícil? Não. Uma resposta profissional!
Voltando ao episódio que relatei acima, embora essa orientação já tivesse sido dada aos nossos professores, não pudemos evitar o desfecho da história. Portanto, coube à professora e a todos nós da escola convivermos com aquele que, para mim, é o pior dos castigos: o sentimento de culpa.
E você, já viveu alguma saia justa causada por esses bate-papos de porta de sua sala? Conte como lidou com a situação. Sua participação enriquece esse espaço.
Cumprimentos mineiros e até a próxima segunda!

Refletindo sobre a competitividade

 | Comportamento dos alunos

Foto: Shutterstock
“O importante não é vencer, mas competir, e com dignidade.” Cresci escutando meu pai dizer esta frase. Confesso que, muitas vezes, ao ouvi-la, principalmente quando não era eu quem tinha vencido uma disputa, falava para o meu pai: “Mas ganhar é muito melhor. Ninguém compete para perder!” Ele insistia: “Participar e saber perder é muito mais difícil, por isso mais importante.” E eu acabava aceitando, muito mais porque era meu pai quem falava do que por compreender ou concordar com a ideia.
Durante minha vida escolar foram muitos os momentos em que eu buscava nessa frase algum alento para o sentimento de derrota diante de um jogo perdido, de uma nota mais baixa ou de qualquer outra situação em que eu me sentia inferior aos outros.
Mas, inferior a quê? A resposta eu só descobri muitos anos mais tarde, quando fui estudar sobre a construção da personalidade. Quando me sentia inferior não me reconhecia de maneira positiva porque somente os vencedores e aqueles que tinham as notas mais altas recebiam o reconhecimento das pessoas que eram nossas referências, os professores. Nessas horas, eles recorriam a expressões como “não fique triste, da próxima vez você vai se sair melhor”. Mas era exatamente esse tipo de “conforto” que mais me incomodava porque deixava evidente que o sucesso e a vitória eram mais importantes e valiam mais do que o esforço, a dedicação e a participação.
No Ensino Médio, a mensagem se radicaliza: “O mundo é competitivo e só os melhores vencem”. Como consequência desse discurso, a escola não considera as características e competências individuais, descarta completamente a análise e o reconhecimento doprocesso e se concentra somente nos fins. Isso é uma distorção e um prejuízo para a vida em sociedade porque, para conquistar melhores resultados, as pessoas passaram a adotar atitudes e posturas que se distanciam de conteúdos éticos.
Precisamos esclarecer algumas questões! Competir, vencer e perder são experiências necessárias ao desenvolvimento. Competir, no sentido de enfrentar um desafio, é extremamente saudável. Vencer pelo esforço e foco e pela dedicação é se sentir como alguém de valor positivo,e não como o melhor, o que, portanto, se transforma em uma ótima chance de exercer a humildade. Já perder é uma oportunidade para aprender a lidardignamente com a frustração de não se alcançar o resultado desejado, buscando uma reavaliação dos meios utilizados. Há, portanto, a necessidade de perceber que sempre há espaço para uma experiência moral positiva, tanto em situações de competição quanto nas de cooperação.
É evidente que o exercício moral fica mais claro nas atividades cooperativas que, por serem também coletivas, favorecem o espaço para as trocas, a participação e a construção de vínculos de confiança. Mas também os jogos de competição são experiências de cooperação entre as equipes que se enfrentam. Ainda que a cooperação esteja presente nas equipes, e não entre elas, há a necessidade de confiança e troca entre o grupo que certamente age em prol do mesmo objetivo: alcançar bons resultados em uma disputa. O problema é que o fortalecimento da ideia de sucesso individual como valor máximo desconsidera por completo o próximo e o coletivo, em outras palavras, ignora a natureza social do ser humano, em nome da cultura da meritocracia.
A atenção, portanto, deve estar na mediação das situações cooperativas e de competição. Ao se concentrar no processo e tirar um pouco o foco dos resultados, elas se tornam ricas oportunidades de se trabalhar com valores, já que o engajamento dos alunos é sempre maior nas propostas em que os grupos se desafiam.
Nesses momentos, é importante o professor cuidar para que todos tenham oportunidades de participação. Isso, muitas vezes, aponta para a necessidade de combinar antes com os estudantes estratégias de formação de grupos que utilizem mecanismos aleatórios para a constituição da equipe: código de cores, mesmas iniciais do sobrenome, sorteio etc. O que também exige do educador o cuidado para que não haja nenhuma manifestação desrespeitosa em relação aos alunos que normalmente são os últimos a serem escolhidos – quando o são.
A mediação do docente também deve garantir a ajuda mútua, a escuta e o respeito. Para tanto, ele pode propor uma avaliação na qual a turma possa apresentar os pontos positivos e negativos de uma atividade (e não dos participantes), o que permite a reflexão sobre o que pode ser melhorado ou mantido.
Isso tudo me faz pensar que talvez o que eu não entendesse na frase repetida tantas vezes pelo meu pai era o trecho com dignidade”, que hoje vejo que significa a experiência de sentir que você fez o melhor que podia, deu o melhor de si e se superou, tanto em relação a desafios individuais como a coletivos. É sentir respeito por si. E como bem afirma Yves de La Taille em seu livro Moral e Ética: Dimensões Intelectuais e Afetivas, “não há possibilidade de respeitar a outrem na sua dignidade sem, ao fazê-lo, experimentar o sentimento da própria dignidade”.
E você? Como lida com o espírito competitivo dos alunos? Compartilhe conosco suas experiências.

Brincar é muito bom e também muito importante!

 | Comportamento dos alunosGestão

Foto: Shutterstock
Conversando recentemente com a mãe de uma criança de 6 anos, ela justificou a transferência do filho para outra instituição, em pleno mês de setembro, da seguinte maneira: “A escola está querendo matar o tempo colocando as crianças para brincar no lugar de aprender”. Pedi que ela falasse um pouco mais sobre isso e ouvi que, além do recreio, a instituição havia instituído, no horário oficial das aulas, momentos de jogos e dramatizaçõesque estariam roubando o tempo de aprendizagem das crianças. Na tentativa de esclarecê-la, expus a argumentação que agora compartilho com vocês.
Em muitas matrizes teóricas da Psicologia, o brincar é considerado atividade fundamental para o desenvolvimento psíquico da criança durante a infância. Para pensadores e pesquisadores como Aristóteles (384-322 a.C), Sigmund Freud (1856-1939) e Milton Erickson (1901-1980), as crianças brincam para descarregar suas emoções. Já para Piaget, essa atividade possibilita ao indivíduo a assimilação da realidade. Portanto, a escola que conhece as características e necessidades de cada etapa da vida logo entende que é responsável por garantir espaços que favoreçam essas atividades.
Uma ideia equivocada, que tem influenciado cada vez mais as decisões das famílias em relação à escolha de onde matricular seus filhos, é a de optar pela escola mais forte. Mas o que significa ser amais forte? Uma resposta muito comum é: “aquela em que as crianças, desde a Educação Infantil, já levam tarefa para casa”. Que grande engano!
Na Educação Infantil, a brincadeira deveria ser uma das práticas mais importantes e, portanto, mais presentes no trabalho das instituições. No entanto, há uma priorização de conteúdos e práticas “escolarizantes”, o que leva o brincar a ser considerado uma pausa pedagógica, ou seja, um momento em que as crianças gastam energia e se recuperam para a próxima atividade dirigida. Essa ideia é estendida e se acentua ainda mais no Ensino Fundamental – que agora começa aos 6 anos.
Assim, o mais comum se tornou a escolha da semana da criança como o período reservado às brincadeiras e aos brinquedos porque, dessa maneira, a escola não se sente insegura diante da cobrança das famílias.
E, vejam, não há problema nenhum em elaborar uma programação especial para esse período. O problema é não considerar o brincar como essencial para o desenvolvimento das dimensões cognitiva, afetiva, social e moral e para a saúde psicológica dos nossos pequenos. Sendo assim, todo dia é dia de brincar, jogar, encenar e de se expressar de forma lúdica!
Cientes dessa função, nós, pais e educadores, temos um papel de extrema importância que é garantir o espaço, o tempo e os recursos para que as atividades se desenvolvam.
Também cabe a nós observar com atenção essas práticas para refletir sobre os mecanismos presentes nas cenas criadas pelos pequenos e entender como eles estão pensando, sentindo e representando aquele momento.
Por isso, deixo aqui uma sugestão às escolas que não deve valer somente para a semana da criança: além de assegurar espaços permanentes para o brincar, é fundamental compartilhar com as famílias o conhecimento sobre as etapas de desenvolvimento do ser humano. Para isso, vale planejar momentos de troca com os responsáveis para esclarecer queé muito importantegarantir o livre brincar. É com essa liberdade de brincar e fantasiar com as coisas e ideias que as crianças constroem suas noções de vida e do mundo.
O que você pensa sobre as brincadeiras nas escolas? Esses momentos são privilegiados em seu planejamento? Compartilhe conosco sua experiência.

O que são as virtudes e como podemos trabalhá-las

 | Comportamento dos alunos

Crédito: Shutterstock
Embora seja um tema recorrente na Educação, trabalhar as virtudes com os alunos não é algo simples e requer a compreensão do conceito e do processo de construção da moralidade.
Vamos recorrer, então, à definição dada por Josep Maria Puig, professor de Teoria da Educação e coordenador do Grupo de Pesquisas em Educação Moral da Universidade de Barcelona. Ele afirma que as virtudes humanas são “o conjunto de disposições admiráveis que delineiam o melhor do caráter de um sujeito”. Segundo o estudioso, elas não são inatase, portanto, para serem construídas como traços de caráter, precisam ser praticadas com regularidade. Uma vez adquiridas, o próprio exercício de mantê-las presente, fará com que tenham estabilidade e durabilidade.
Podemos considerar que existem diferentes tipos de virtudes, tais como:
  • As morais, como a justiça, que são percebidas desde cedo. A criança, por exemplo, quando passa por uma situação em que percebe que está sendo tratada diferente do colega ou do irmão, imediatamente, se manifesta.
  • Aquelas que, embora não sejam morais, contribuem para o exercício de outras. A coragem está entre elas. É preciso tê-la para assumir a responsabilidade por um dano ou para intervir quando vemos que alguém está sendo injustiçado ou humilhado. Nesse caso, ela pode fortalecer a honestidade e a justiça.
  • As virtudes que dão origem a outras, como a polidez. O uso regular das expressões “por favor”, “com licença” e “obrigado” possibilitam o desenvolvimento do respeito ao próximo, da socialização e da gratidão.
Entendido isso, vamos ao contexto da escola. Frequentemente, as instituições elaboram projeto de virtudes, para o qual as equipes gestora e docente escolhem aquelas que julgam mais necessárias por sua escassez nas relações entre os alunos e deles com os professores e funcionários. Com base nisso, são pensadas uma série de atividades criativas para dar conta da questão: debates, exposições, apresentações cênicas, produção de livros e cartilhas etc.
Mas é preciso pensar se, de fato, essa é a melhor forma de trabalhar o tema. Não podemos nos esquecer que projetos têm começo, meio e fim. Então, cabe a pergunta: quando a proposta é concluída não se trabalha mais as virtudes?
É um grande equívoco achar que elas são aprendidas apenas pelo discurso e com algumas horas-aula destinadas a trabalhar o assunto. As virtudes são adquiridas por esforço moral pessoal.Apenas o cuidado com a qualidade das relações interpessoais e o exercício constante de autorregulação de atitudes impulsivas, reativas e, muitas vezes, negativasteremos a cristalização das virtudes. É na prática diária que exercitamos – ou não – o respeito, a solidariedade, a tolerância, a responsabilidade.
O olhar do educador para planejar atividades que tratem desse tema fará toda a diferença no desenvolvimento moral dos alunos. Vou explicar melhor. Muitas vezes, os gestores e os docentes se preocupam apenas com o resultado das atividades, desconsiderando o processo,que éjustamente o momento de construir as virtudes antes de chegar ao objetivo. O respeito aos colegas na hora de falar, a escuta atenta às explicações e diferentes opiniões, e a responsabilidade, por exemplo, são – ou deveriam ser – praticados em todo momento e durante qualquer atividade proposta.
As virtudes estão presentes em todas as práticas da escola – de maneira intencional ou não. Por essa razão, é necessário aguçar o olhar e reconhecê-las nas atitudes positivas, que, certamente, existem nas turmas. Da mesma maneira, é preciso refletir sobre as negativas. Isso não significa expor os alunos a elogios ou críticas. A condução dessa discussão deve ser feita de maneira impessoal, sem nominar quem fez ou deixou de fazer algo.
Nada de doutrinação e longos sermões. Aproveite sempre as situações cotidianas que surgem em sala de aula ou na escola para propor momentos de discussão sobre o que está por trás dos fatos, identificando os princípios que sustentam e orientam as diversas ações e que, necessariamente, nos aproximam da reflexão sobre as virtudes. Já pensou sobre isso?
Conte como conduz seu trabalho em relação a esse tema. Há espaço em suas aulas para o reconhecimento e a prática delas? Compartilhe conosco.

A criança deve bater de volta quando ocorrem brigas e agressões?

 | Comportamento dos alunos

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Há algumas semanas, discutimos aqui sobre as reações de crianças pequenas em conflitos. Uma situação relacionada ao tema e sobre a qual eu gostaria de refletir com mais cuidado hoje é a seguinte: frequentemente, pequenos  por volta dos 3 ou 4 anos  são alvo de repetidas agressões físicas cometidas por algum colega. Para o educador que enfrenta situações como essa, surgem muitas dúvidas e preocupações: “são tão pequenos, serábullying?”, “devo incentivar o agredido a bater de volta?”, “como intervir?”
Pesquisas apontam a ocorrência de bullying a partir dos 4 anos de idade, então ele não pode ser descartado. Entretanto, nossa maior preocupação deve se voltar para a escolha deintervenções construtivas que busquem favorecer o desenvolvimento de atitudes pró-ativas.
Como falamos há algumas semanas, a utilização da força física para resolver problemas entre pares é natural nas crianças menores, mas há grande diferença entre seu uso na busca pela resolução de um conflito e seu uso injustificado, ou seja, sem que haja nenhum disparador.
No primeiro caso, trata-se de uma reação impulsiva utilizada na tentativa de ter uma  vontade satisfeita. No segundo, ela se dá pelo simples prazer de causar a dor. Embora de naturezas distintas, ambos os casos merecem muita atenção porque no mínimo, envolvem o sofrimento de alguém, ainda que no segundo possa haver a necessidade da intervenção de outros profissionais para uma avaliação mais detalhada, com orientações específicas para situações de maior gravidade.
Em paralelo com as dificuldades do professor em lidar com tais situações, há também a indignação das famílias dos que são vítimas das agressões. Muitas vezes movidos pela emoção, os pais orientam os pequenos a revidar. E com isso, temos um cenário em que a busca por soluções respeitosas fica comprometido.
A grande questão está em justamente apresentar para as crianças outras possibilidades de se relacionar, principalmente diante das situações de conflito. Permitir que batam de volta?Jamais. Colocar pra pensar? Já sabemos que não resolve, até porque não é coerente com o estágio de desenvolvimento em que estão (veja aqui um vídeo sobre o uso do “cantinho da disciplina”).
O caminho, insisto, é sempre colocar os envolvidos juntos e estimulá-los a compartilhar os sentimentos. Esse tipo de intervenção auxilia as crianças a reconhecer outras perspectivas além das próprias, a pensar em maneiras alternativas ao invés de bater, e meios de reparar o dano causado. O que deve ficar claro é que todo sentimento pode e deve ser acolhido, ou seja, há permissão para o sentir e o pensar. As ações, entretanto, precisam ser limitadas.
A passagem das reações físicas ao compartilhamento verbal das emoções é um processo que requer tempo. Por isso, ter na sala um boneco do tipo João Bobo, no qual seja possível extravasar a raiva, pode ser proveitoso. E você pode questionar: “Mas isso não incentiva a violência?”. Incentivar a violência é permitir que prevaleça a máxima do “olho por olho, dente por dente”. A sugestão do boneco é uma permissão para a ação simbólica da criança que, certamente, alivia seu mal-estar, podendo socar algo e não alguém.
Utilizar boas intervenções somente na hora do conflito não basta, uma vez que esses momentos se direcionam somente aos envolvidos. Por isso, deve-se implantar um trabalho sistemático que busque prevenir as situações de uso da violência.
Os professores devem propor atividades abrangendo o trabalho de três dimensões das relações interpessoais: a dimensão de si, da relação entre pares e da relação com a autoridade. Isso significa planejar atividades que permitam o reconhecimento dos próprios sentimentos e dos sentimentos do outro frente a uma situação fictícia de conflito, podendo ser uma cena entre pares ou entre a criança e a autoridade (adulto). As propostas do professor devem permitir que os pequenos expressem seus sentimentos.
Existem diversas situações que podem ser utilizadas em sala de aula. Indico algumas obras que podem ser utilizadas como fonte de inspiração. As duas primeiras foram escritas pela pesquisadora Luciene Tognetta: A Construção da Solidariedade e a Educação do Sentimento na Escola e A Formação da Personalidade Ética. Nelas, a autora traz uma variedade de propostas que atendem a diferentes idades e estágios de desenvolvimento.  As propostas dela são baseadas no que Genoveva Sastre e Montserrat Moreno defendem na obraResolução de Conflitos e Aprendizagem Emocional. Há também ricas sugestões dadas por Denise Tardelli para um trabalho em que os filmes e desenhos servem de disparadores para ótimos momentos de reflexão e representação de conflitos. Elas estão no livro O Herói em Sala de Aula.
Nossa postura deve buscar influenciar as crianças para o exercício do respeito mútuo e da confiança, princípios morais necessários para a construção de relações justas e socialmente desejáveis. Compartilhar com as famílias esses conhecimentos e princípios é também investir numa parceria necessária para a formação dos pequenos. E você? O que pensa sobre a cultura do “bateu, levou”? Compartilhe conosco sua experiência.

Mais assertividade e menos fofoca

 | Gestão
Blog de Orientação Educacional. Fofoca na equipe. Foto: Shutterstock
Foto: Shutterstock
O convite da semana é para refletir sobre um tema delicado presente na maioria das escolas: a fofoca. Comecemos por (re)tomar a consciência de que não existe fofoca positiva, pelo simples fato de se tratar de uma prática exercida sem a presença de quem dela é alvo. Essa constatação já justificaria a extinção dessa prática, principalmente no espaço educacional. Contudo, práticas como essa ainda são perpetuadas na maioria dos ambientes profissionais.
A fofoca surge, prioritariamente, de um julgamento negativo que se faz de uma pessoa ou de um grupo. Na escola, até mesmo os desabafos sobre momentos mais difíceis vividos em sala de aula (ou fora dela) costumam se tornar tema de conversas desse tipo. É importante ressaltar que o dano não está no desabafo, perfeitamente compreensível. O estrago acontece quando esses conteúdos são repassados repetidamente, nos mais diversos espaços da escola e a rádio corredor entra no ar.
Na maioria das vezes, aquilo que seria um simples momento de exteriorizar uma emoção – indignação, raiva, frustração, etc – toma sérias proporções. É o efeito bola de neve: há uma queixa ou um comentário sobre alguém feito para um colega, que repassa aquela informação para n outros sujeitos, emitindo seus próprios juízos. E assim o tema da fofoca se distancia cada vez mais das pessoas envolvidas na situação, que seriam as únicas com condições de esclarecer o mal-entendido.
Qual seria o antídoto para esse veneno das relações que é a fofoca?O segredo é a assertividade. Ela colabora para que relações de confiança sejam construídas no ambiente escolar.  O gestor necessita orientar a equipe a não fomentar comentários como “Posso te contar uma coisa?” e “Promete que não conta pra ninguém?”. Alguns questionamentos básicos têm de ser feitos para quem espalha a história: “Qual é a importância do que você está dizendo para nosso ambiente de trabalho?”, “Qual a sua intenção?” e “O que pode ser feito para resolver a situação?”
Durante todo o processo, o gestor deve ter uma postura firme para transformar a fofoca em um assunto a ser tratado com seriedade. O objetivo é esclarecer que, se há um problema, ele deve ser resolvido com quem é de direito.
Inúmeras vezes, ao passar por situações em que nitidamente o tom da conversa se aproxima de uma fofoca, minha fala é: “Se for algo que não possa ser comentado publicamente, não me conte.” Ou então: “Você precisa falar isso para quem é de direito. Gostaria que eu participasse da conversa?”. E foi agindo assim que pude perceber que, aos poucos, a rádio corredor fica com a audiência comprometida.
Devemos, então, focar o que deu origem ao desabafo. Se é o comportamento de uma turma que incomoda, pensemos sobre o que pode ser feito para resolver a situação. Caso uma atitude da gestão tenha sido dura ou desrespeitosa, que se fale diretamente sobre isso a quem compete ouvir. Enfim, nosso papel de educar demanda uma postura em que sejam asseguradas a clareza e a especificidade naquilo que falamos, características da assertividade.
Nós somos responsáveis pelos nossos comportamentos. Portanto, se alguém não se comporta de maneira assertiva, não precisamos fazer o mesmo!
E no seu ambiente de trabalho, já se deparou com situações que acabaram virando fofoca? Como você agiu diante disso? Compartilhe conosco!

Conflitos: as estratégias típicas das crianças pequenas

 | Comportamento dos alunos
Imagem utilizada no blog da orientadora no post sobre resoluções de conflito em turmas de crianças pequenas. Fonte: Shutterstock
“Sai, aqui é MEU lugar”, “Dá pra mim, isso é MEU”, “Não, você não vai brincar.” Frases como essas, acompanhadas de mordidas, empurrões, pontapés, fugas e birras parecem familiares para você? São ou não são algumas das maneiras utilizadas pelos pequenos da Educação Infantil na resolução de conflitos?
Apesar de às vezes os mais velhos também agirem dessa maneira, esse comportamento é coerente com o estágio de desenvolvimento em que as crianças mais novas se encontram. Em suas pesquisas, o americano Robert Selman* apresenta uma teoria explicativa sobre a evolução das estratégias de resolução de conflitos nas crianças. Segundo ele, o desenvolvimento do pensamento moral só se dá quando ocorre a adoção da perspectiva do outro. Isso quer dizer que é importante o desenvolvimento da capacidade de diferenciar e integrar os próprios pontos de vista e os do outro. Isso envolve entender a relação entre pensamentos, sentimentos e desejos –  do outro e de si.
Essa habilidade é justamente uma das que ainda não está plenamente desenvolvida até os 5 ou 6 anos de idade, quando eles se utilizam das chamadas estratégias de nível zero.  Ainda com acentuado grau de egocentrismo, a criança sempre age na tentativa de satisfazer os próprios desejos. Portanto, para as crianças pequenas, o conflito é visto não como uma discordância de perspectivas, mas uma situação em que a vontade do outro se torna um obstáculo para que ela faça o que deseja. Essas estratégias se dividem em dois tipos: não-interação (fugir, afastar, esconder) ou intervenção física direta (lutar, agarrar, gritar, agredir).
Quando são um pouco mais velhas, entre 5 e 9 anos de idade, elas já possuem um novo nível de compreensão. Essas crianças veem o conflito como um sentimento ruim despertado em uma das partes (a vítima) e causado pela outra (o culpado). Os atos que convergem com os sentimentos da vítima são considerados justos e quando alguém não faz o que ela quer essa pessoa está sendo injusta.
Utilizam, então, as estratégias de nível um, que envolvem tentativas de reduzir o desconforto sofrido pela vítima. São elas: a negação da ação problemática, reprovando os sentimentos do ofendido, e uma ação positiva para devolver a calma a ele. No primeiro caso, usam comandos ou ordens como: “Para de chorar” e “Sai daqui”. No segundo, estão os famosos pedidos de desculpas, dizer que foi sem querer e prometer não fazer de novo. Também é muito comum que elas envolvam ameaças ou subornos de poder ou afeição do tipo: “Eu não serei mais seu amigo”, “Eu só vou gostar de você, se…”, “Se você jogar futebol comigo, eu te dou meu chocolate”.
Como podemos intervir para favorecer a evolução nos níveis de estratégias?Primeiro devemos entender que o desenvolvimento não pula etapas. Portanto, é necessário ter consciência de que a evolução se dá do nível zero para o um e assim sucessivamente.
Isso quer dizer que, para as crianças menores, devemos intervir ajudando-as a usar as palavras para mostrar o que querem ou o que estão sentindo (apresentando demandas). Intervir auxiliando-as a identificar o desejo do outro, favorecendo a compreensão de que uma demanda (palavras) é melhor do que o ato de agarrar ou bater (a força física).
intervenção do professor acontece na hora do conflito, mas também deve estar presente de maneira indireta em outras atividades. Como? Utilizando, por exemplo, das dramatizações, dos fantoches e bonecos para recriar cenas de conflitos vividas pelas crianças. Esses são momentos oportunos para permitir que os pequenos assumam outros papéis, criando a oportunidade para que eles percebam além dos próprios sentimentos. Se o objetivo é sempre promover espaços para reflexão sobre maneiras cada vez mais justas de resolver seus conflitos, podemos usar os bonecos e os personagens das histórias para inspirar novas e melhores estratégias. É importante saber também que o fato de um sujeito atingir o nível superior não significa que atuará somente nesse nível. Os anteriores são acessíveis, ou seja, uma pessoa pode estar num nível de entendimento pessoal mais elevado, porém em algumas situações agir de maneira menos desenvolvida, correspondente aos níveis iniciais. Nós adultos muitas vezes nos negamos a enfrentar um conflito de maneira assertiva e optamos pelo silêncio, pela cara emburrada, ou, pelo famoso bico (estratégias também de nível zero).
Conhecer esse desenvolvimento permite ao professor observar, nas situações em que as crianças interagem umas com as outras, os níveis de entendimento interpessoal, tendo assim mais condições de realizar intervenções construtivas.
Como são os conflitos de seus alunos? Quais as estratégias que eles usam para resolvê-los? E você, como faz a intervenção? Compartilhe conosco.
Cumprimentos mineiros e até a próxima segunda!
(*) SELMAN, R. L. The growth of interpersonal understanding. New York: Academic, 1980.

Dia Mundial da Alfabetização: lembre de respeitar o ritmo de cada um

 | Família e escolaGestão

Pensando sobre o tema da semana, acabei fazendo uma viagem no tempo e revisitei meu passado como mãe e como alfabetizadora. A divagação me impeliu a mergulhar ainda mais e reuni a família para ouvir as lembranças de leitura dos dois meninos da casa – um com 22 e o outro com 25 anos. Indescritível a catarse gerada. Pedi que me contassem algumas cenas que lembrassem de momentos em que ainda não sabiam ler, mas que foram marcados pela leitura de alguma história feita por alguém e que também buscassem na memória o momento que se sentiram proprietários da leitura. Uma tempestade de cenas se formou e os relatos foram despejados numa série de boas e belas recordações.
Minha intenção, a princípio, era a de ouvir um pouco sobre as sensações geradas pela leitura em relatos que trouxessem memórias de escuta e de leitura propriamente dita. Mas o que acabou acontecendo ultrapassou minhas expectativas. Ouvi o relato do momento em que um deles se deu conta de que sabia ler. Perguntando pra ele sobre seus momentos como ouvinte de histórias lidas – todo domingo ele ganhava uma revistinha da Turma da Mônica e sua coleção até hoje é intocável – ouvi: “Hoje, acho que a história não era lida pra mim, era contada. E sendo assim, quando acabava, eu queria ouvir de novo e corrigia meu pai toda vez que o que ele falava estava diferente do que eu havia ouvido minutos antes.”Como isso é presente na vida dos pais! A criança, no seu mais acentuado grau de egocentrismo quer ouvir exatamente do jeito que ouviu a primeira vez.
A alfabetização constitui apenas parte do que o aluno precisa aprender em relação à Língua Portuguesa. Porém, construir o princípio alfabético demanda uma gama de etapas. Considerando as diferentes bagagens que cada sujeito traz até o momento de sua efetiva alfabetização e as distintas maneiras de conceber novas informações, torna-se evidente que os ritmos de aprendizagem serão variados. Aliás, tal evidência nos acompanha por toda nossa vida.
Não raro me deparo com situações em que o aluno de 6/7 anos chega ao mês de setembro sem ter conquistado seu status de leitor e a ansiedade do professor e da família abre espaço para sérios questionamentos quanto à normalidade de desenvolvimento do sujeito.
É preciso levar o professor e a família à consciência de que processos internos de construção, como a leitura, não se apresentam da mesma maneira e ao mesmo tempo em crianças diferentes. Sugerir que os adultos busquem em suas memórias as lembranças da infância como ouvintes e leitores é abrir espaço para tal reflexão, uma vez que, certamente, se lembrarão de que os colegas de classe não aprenderam a ler ao mesmo tempo; de que ouviam (ou não) muitas histórias lidas (ou contadas) pelos pais; de que tinham (ou não) boa variedade de livros e revistas à disposição. São exatamente as sensações afetivas recordadas que dão pistas de quão prazerosa (ou não) foi essa etapa na vida deles. E agora cheguei realmente onde queria: que sensação o processo de construção da leitura tem causado nos meus alunos? De descoberta, de conquista, enfim, de afetos positivos? Ou, de tensão, de insegurança e outros afetos negativos?
E você, tem boas recordações de suas descobertas? Deixará em seus alunos lembranças de prazer? Compartilhe conosco sua experiência sobre esse tema.
Cumprimentos mineiros e até a próxima segunda!
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Os conflitos que ocorrem fora da escola também nos pertencem?

 | Comportamento dos alunosFamília e escola
Algumas vezes é na escola que explodem conflitos originados fora da instituição. E isso tem se tornado ainda mais frequente com o uso das redes sociais, lugar onde têm sido expostos e compartilhados sentimentos positivos e negativos em relação a tudo e a todos.
O que fazer? Delimitar o espaço de atuação da escola, agindo somente sobre os desafios que nela surgem, ou, perceber que, na maioria das vezes, os sujeitos envolvidos nos conflitos fora dos muros são, também, nossos alunos?
Com base nas ideias que tenho defendido, torna-se clara minha escolha pela segunda alternativa. Tudo é uma questão de coerência: se pretendemos trabalhar o ser humano aluno, ele não existe somente entre os muros da escola. É exatamente pelas atitudes que os meninos e as meninas têm longe dos olhos vigilantes dos adultos que os orientam que podemos mensurar o quanto nosso trabalho de formação – moral e social – está (ou não) voltado para a construção da autonomia e de personalidades éticas.
É inaceitável fingir que não sabemos ou fechar os olhos diante de situações gravíssimas como, por exemplo, o uso inadequado de aplicativos como o Secret, “segredo”, em inglês, em que os usuários compartilham textos e imagens com seus amigos sem se identificar. Evocê pode pensar: “Ah, mas esse assunto já foi resolvido pela justiça brasileira e o uso do aplicativo foi proibido em nosso país”. Mas não é a restrição legal de qualquer que seja a ferramenta virtual ou substância que irá assegurar aos nossos meninos e meninas a escolha por atitudes construtivas.
Entendo e concordo que nossa responsabilidade aumenta – e muito – quando nos implicamos com as questões vindas do lado de fora da escola. Mas o grande desafio dos educadores é conceber a vida real e os fatos do mundo como matéria-prima do seu trabalho.  A escola que se restringe aos conteúdos programáticos fatalmente falha na formação do ser humano. E convenhamos: é de seres humanos melhores que o mundo precisa.
Pois então, encaremos a realidade, não há possibilidade de um clima favorável de aprendizagem se as pessoas envolvidas estiverem somente de corpo presente. Há o mito de que não cabe à escola se envolver nos conflitos externos à instituição, mas o trabalho voltado para o cotidiano não descarta espaços de discussão e reflexão sobre essas questões externas. Respeitando o que é de âmbito privado, devemos garantir os momentos de troca de diferentes pontos de vista acerca das mais diversas situações de vida, de acolhimento dos sentimentos, dúvidas e angústias do grupo, e da prática do respeito mútuo. Isso envolve, necessariamente, o exercício de escuta e de comprometimento com o desenvolvimento. Não cabe à escola solucionar todos os problemas, entretanto, é (ou deveria ser) também de responsabilidade da escola promover espaços de debate sobre maneiras positivas de viver um conflito, propor alternativas que assegurem o direito de todos, retomando seus deveres quanto à convivência pacífica e respeitosa.
Os avanços da tecnologia e a dinâmica da sociedade atual ainda trarão inúmeros desafios para o ambiente escolar. Não há como blindar a instituição contra temas, fatos e episódios que rondam a vida de nossos alunos. Afinal, como referência que somos, nossa postura de lucidez e acolhimento pode representar o único porto seguro para muitos estudantes.
Imaginar que seja possível o aluno deixar do lado de fora da escola angústias e inquietações causadas por conflitos iniciados em outros ambientes é o mesmo que acreditar na possiblidade de deixarmos também em casa nossa gaveta de problemas e preocupações.
E você? O que pensa sobre o tema? Cabe ou não à escola contribuir com questões vindas de fora? Deixe seu comentário. Ele é sempre muito bem-vindo.
Cumprimentos mineiros e até a próxima segunda!
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